Tenho
dito alhures em meus textos que se o Cristo não tivesse sido um herege - na
melhor conotação que nos seja possível atribuir a esse termo - não teríamos à
nossa disposição os ensinamentos imortais que ele nos deixou. Com uma ressalva
necessária, ainda que algo contundente: não estou me referindo ao corpo
doutrinário e filosófico-religioso que conhecemos hoje como cristianismo, nas
suas variadas denominações. E sim aos ensinamentos originais de Jesus, tanto
quanto nos seja possível hoje identificá-los em textos muito trabalhados para
dizerem o que convinha aos interesses quantitativos das instituições que hoje
falam em nome dele.
Charles Guignebert, o eminente historiador
especializado na temática do cristianismo primitivo, escreveu um livro
intitulado Jesus e outro sob o
qual optou pelo título Cristo,
a fim de deixar bem marcada sua leitura de que não são a mesma pessoa. Ou seja,
uma delas é o jovem e sábio carpinteiro galileu que pregava a revolucionária
doutrina do amor, da tolerância, do comportamento e o outro, uma figura
teológica, fundadora de uma Igreja que teria em suas mãos as chaves de um
paraíso igualmente artificial e o poder de decidir quem iria para lá ou para o
não menos fictício inferno.[...]
Falta-nos ainda entender que Jesus não
fundou mais uma religião. Preferiu propor e exemplificar com sua pregação e seu
exemplo pessoal um plano de comportamento claramente apoiado na esquecida
realidade do amor. E vejam bem: não estou falando de cristianismo, falo -
reitero - de comportamento, qualquer que seja sua opção religiosa ou
filosófica. Ou o seu ateísmo.
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