Vive no inconsciente das massas o conceito falso de que a função da Divindade é a de servir sem cessar.
Herdeiro das tradições e do atavismo ancestral trabalhado por algumas
doutrinas religiosas ortodoxas, no passado, fixou-se na mente espiritual de
grande parte da sociedade a ideia do servilismo divino, como única maneira de
fazer-se entender Deus e a Sua majestade.
No imaginário popular, a única finalidade do Senhor da vida é a de
proteger os Seus filhos, evitando-lhes sofrimentos e retificando-lhes os
caminhos, a fim de que somente facilidades encontrem na Terra, desfrutando de
prazeres e de júbilos intérminos.
Quando se lhes fala a respeito da necessidade do autocrescimento, da
autoiluminação, surpreendem-se, sem entendimento imediato, como se isso lhes
fosse algo imposto de maneira injusta.
Existem mesmo aqueles que se admiram da maneira pela qual o Criador deu
vida à vida, especialmente ao ser humano, impondo-lhe a necessidade de
crescimento pessoal, de aprimoramento moral e de desenvolvimento espriritual.
Interrogam, surpresos, muitas vezes, por que Deus já não fez tudo
perfeito, evitando tanto trabalho, conforme consideram as propostas
libertadoras.
Olvidam-se de que a sabedoria divina melhor entende as razões por que o
Espírito foi criado simples e ignorante, a fim de ter ensejo de desenvolver os
sublimes recursos que lhe jazem interiormente, na condição de herança
transcendente de sua procedência.
A decantada perfeição de que gostariam de usufruir, não passa, afinal de
contas, de um tipo doentio de aposentadoria em relação ao trabalho, de ociosidade
dourada, sem dar-se conta da monotonia, da saturação que logo se lhes
instalariam, portadores de inquietação e de desejos que são, alguns deles,
exagerados...
A benção do
trabalho é de alto significado para a felicidade pessoal e geral, por facultar
o desenvolvimento dos tesouros que se encontram em germe, a cada qual ensejando
alegrias incomparáveis. [...]